- Evidenciador ,
- 22 nov 2024
Créditos da foto: KAREN BLEIER/AFP/Getty Images
Os olhos podem ser as “janelas da alma” como dizem os poetas, mas eles também podem revelar muito mais sobre a sua saúde.
Olhos secos podem ser um sinal de artrite reumatoide. Altos níveis de colesterol podem causar a formação de um anel branco, cinza ou azul ao redor da parte colorida do seu olho, chamada íris. Um anel de ouro acobreado circulando a íris é um importante sinal da doença de Wilson, uma disfunção genética rara que faz com que cobre se acumule no cérebro, fígado e outros órgãos, lentamente envenenando o corpo.
E isso não é tudo: Danos a vasos sanguíneos na parte de trás do olho, chamados de retina, podem ser sinais precoces de danos em nervos causados pelo diabetes, pressão alta, doença arterial coronariana, até mesmo câncer, assim como glaucoma e degeneração macular relacionada à idade.
Verificar por sinais de doenças é a principal razão pela qual o médico dilata seus olhos para examinar suas profundezas em seus exames oftalmológicos anuais.
Em breve, talvez tenha uma outra boa razão para sofrer de visão embaçada por algumas horas. Um novo estudo, o qual pesquisadores alegam ser inédito, revela que a retina também pode nos fornecer uma maneira fácil e não invasiva de determinar a verdadeira idade biológica do nosso corpo — que pode ou não espelhar nossa idade cronológica.
“A retina oferece uma ‘janela’ única e acessível para avaliar processos patológicos com raízes em doenças vasculares e neurológicas sistêmicas, que estejam associadas a riscos elevados de mortalidade”, escreveu o autor do estudo, Dr. Mingguang He, professor de epidemiologia oftalmológica da Universidade de Melbourne e do Centro de Pesquisa Ocular, ambos localizados na Austrália. O estudo foi publicado nesta terça-feira na revista British Journal of Ophthalmology.
O estudo analisou mais de 130 mil imagens de retina de amostras dadas por pessoas que participam do Biobanco do Reino Unido, um estudo governamental de longo prazo com mais de 500 mil participantes do Reino Unido entre 40 e 69 anos de idade. Usando um modelo de aprendizagem profundo, que é uma forma de aprendizado de máquina, os pesquisadores estimaram um “intervalo de idade da retina” entre a saúde biológica real do olho e a idade da pessoa desde o nascimento.
Houve um aumento de 2% no risco de morte de qualquer causa para cada ano de diferença entre a idade real de uma pessoa e a idade biológica mais velha identificada no olho, descobriu o estudo.
Intervalos maiores de três, cinco e 10 anos entre a idade real e a idade biológica medidos a partir da retina, foram significativamente associados a um risco até 67% maior de morte por doenças específicas, mesmo depois de levar em conta outros fatores como pressão alta, peso e estilo de vida diferentes como fumar.
“Usando um algoritmo de aprendizagem profundo, o computador foi capaz de determinar a idade do paciente a partir de uma foto colorida da retina com uma precisão muito boa. Esses níveis de mudanças não são coisas que nós, como clínicos, podemos dizer — nós podemos dizer se alguém é uma criança versus um adulto mais velho, mas não se alguém tem 70 anos versus 80”, disse Dr. Sunir Garg, porta-voz clínico da Academia Americana de Oftalmologia e professor de oftalmologia no Hospital Wills Eye na Filadélfia, que não foi envolvido no estudo.
“O aspecto realmente único deste artigo é usar a diferença na idade real de um paciente em comparação a idade que o computador pensou que um paciente tinha para determinar a mortalidade. Isso não é algo que pensávamos ser possível”, escreveu Garg por e-mail.
Havia dois grupos de doença para os quais o modelo falhou em prever significativamente o aumento no risco de morte: doenças cardiovasculares e câncer. Isso pode ser devido a um número menor de casos do tipo na população estudada, explicaram os pesquisadores, ou a melhorias nos tratamentos de câncer e doenças cardíacas.
“Nossas novas descobertas determinaram que o intervalo da idade da retina é um preditor independente de aumento do risco de mortalidade, especialmente de doenças não relacionadas ao sistema cardiovascular e câncer”, escreveu He e sua equipe. “Essas descobertas sugerem que a idade da retina pode ser um biomarcador clinicamente significativo do envelhecimento.”
Colocar essa teoria em prática é apenas um vislumbre nos olhos dos pesquisadores neste momento. Mesmo assim, o estudo mostra ainda outro benefício de permitir que outra pessoa olhe profundamente em seus olhos, mesmo que seja apenas seu oftalmologista.
“Conjuntos de dados maiores em populações mais diversas terão que ser realizados, mas esse estudo destaca que testes simples e não invasivos do olho podem nos ajudar a educar os pacientes sobre sua saúde geral e, esperançosamente, será útil em ajudar pacientes a entender mudanças que podem fazer para melhorar não somente a sua saúde ocular, mas sua saúde de forma geral”, escreveu Garg.