- Evidenciador ,
- 14 nov 2025
O ambiente digital democratizou oportunidades como nunca. Hoje, qualquer pessoa pode alcançar milhares de seguidores, criar conteúdo, vender um curso, opinar sobre negócios, atuar como mentor e assumir um papel de referência dentro de um nicho específico. Essa revolução tem um lado extraordinário: ela abriu portas para empreendedores genuínos, para profissionais competentes e para pessoas com histórias reais, fruto de trabalho consistente. Mas também escancarou uma preocupação urgente: a ascensão meteórica de especialistas que nunca construíram nada sólido na vida real, mas que se posicionam como autoridades absolutas na internet.
É preciso tratar esse assunto com máxima seriedade. A cultura digital atual permite que boa oratória, cenário bem montado e frases de impacto se vistam de credibilidade, mesmo quando não existe qualquer lastro profissional ou histórico concreto por trás dessas personas. A consequência é perigosa. Empresários e jovens empreendedores acabam seguindo conselhos supérfluos, comprando metodologias vazias e acreditando em promessas irreais vendidas por pessoas que jamais administraram uma equipe, lideraram um negócio ou enfrentaram os desafios que dizem saber resolver.
A internet trouxe um fenômeno sem precedentes. Ela possibilitou transformação real, financeira e social para qualquer pessoa que tenha competência, disciplina e visão. Há casos legítimos de empresários, criadores e profissionais que escalaram seus negócios justamente porque entenderam o potencial desse novo ambiente. Mas essa mesma revolução abriu espaço para um movimento paralelo, muito mais superficial. Pessoas que nunca geraram resultado concreto fora da tela agora se promovem como mentores de sucesso, consultores de negócios, especialistas em performance ou qualquer outra nomenclatura que sirva para mascarar a falta de prática.
O problema não é a ausência de formação tradicional. O problema é a ausência de verdade. Boa oratória pode convencer. Cenário bonito pode impressionar. Mas no mundo real, aquele em que decisões custam dinheiro, pessoas dependem de resultados e empresas enfrentam riscos todos os dias, o que sustenta qualquer autoridade é trajetória. Nenhum empreendedor sério constrói algo relevante sem suor, noites mal dormidas, erros, ajustes, riscos calculados e um histórico que resiste ao tempo.
É justamente esse percurso que muitos dos especialistas instantâneos não possuem. Eles vendem atalhos que não existem. Simplificam processos complexos. Criam ilusões de que basta ter mentalidade, seguir três passos, vibrar certo ou confiar no universo para prosperar. Esse tipo de narrativa seduz porque é confortável. Mas é uma farsa perigosa.
O pequeno e médio empreendedor, especialmente em cidades do interior, tem sede de crescimento, e isso é uma virtude. Mas essa sede também torna muita gente vulnerável a soluções mágicas. É comum ver empresários investindo tempo e dinheiro em métodos genéricos, fórmulas de palco, conselhos que ignoram a realidade local e práticas descoladas da vida real. Ao seguirem quem nunca empreendeu, esses empresários deixam de ouvir quem realmente construiu negócios, quem faz gestão de pessoas, quem conhece fluxo de caixa, quem entende de marketing, quem assume riscos todos os dias, quem paga imposto, quem negocia, quem cresce de verdade.
O resultado disso é perda de foco, investimentos errados e expectativas completamente distorcidas sobre o que significa empreender no Brasil. Autoridade real é construída sobre quatro pilares: experiência comprovada, coerência, transparência e responsabilidade. Quando esses pilares não existem, o que sobra é performance vazia, não liderança.
Empresários que desejam crescer precisam adotar um filtro rigoroso para decidir quem seguir no digital. Não é sobre aparência, seguidores ou discurso motivacional. É sobre histórico, profundidade, consistência e resultados reais. Empreender é árduo, técnico e exigente. Quem diz o contrário não está tentando ajudar; está tentando vender.
O ambiente digital continuará oferecendo oportunidades imensas, mas para que esse crescimento seja saudável é necessário separar autoridade real de autoridade artificial. Empresários precisam valorizar quem entrega resultado, quem vive o que ensina e quem respeita a inteligência do público. Influenciar não é brincar de sucesso; é uma
responsabilidade moral, social e econômica.
A internet criou um palco gigantesco. Mas nem todo mundo que está no palco é protagonista. O empreendedor inteligente aprende a reconhecer quem está performando e quem está entregando. E escolhe seguir quem constrói, não quem só fala.