- Evidenciador ,
- 19 nov 2024
Ainda hoje, um dos casos que mais assombra a história brasileira é a fatídica noite do dia 27 de janeiro de 2013, data na qual 242 jovens perderam a vida dentro da Boate Kiss, em Santa Maria (RS). Outras 636 pessoas ficaram feridas em uma tragédia que, dez anos mais tarde, segue sem a responsabilização devida dos acusados pela Justiça Brasileira.
Em cinco episódios de 45 minutos, é mais sobre a Justiça que a nova minissérie nacional da Netflix, Todo dia a Mesma Noite, pretende falar. Baseada no livro homônimo de Daniela Arbex, a produção, que estreia nesta quarta-feira, 25, relembra ao Brasil a incansável luta dos pais dos jovens que estavam na boate naquela noite – e até hoje clamam por Justiça em um episódio que está longe de ser um acidente.
De forma muito responsável com as vítimas e os pais, a série retrata a aflição dos sobreviventes àquela noite como um resgate histórico. A riqueza de detalhes impressiona: desde os celulares tocando à atuação dos bombeiros até o reconhecimento dos corpos e a visita de Dilma Rousseff, presidente na época, à cidade, os dois primeiros episódios de Todo Dia a Mesma Noite conquistam pela emoção.
Mas é na busca por Justiça, em respeito aos 272 jovens que perderam a vida na Kiss, que a minissérie se aprofunda. Uma forma de explorar um crime que, dez anos depois, segue sem a devida responsabilização dos acusados.
Ao mesmo tempo em que a série aborda essa busca incessante, ela revela o luto permanente dos pais das vítimas da Boate Kiss de forma muito respeitosa. Esqueça o sensacionalismo: a minissérie consegue transpassar o sentimento de perda ao longo dos anos – esse que, de uma forma ou de outra, está sempre presente.
Com um olhar atento à responsabilidade para retratar um caso tão delicado da história brasileira, Todo Dia a Mesma Noite também surpreende pela qualidade da produção.
O roteiro, afinado e completo, guia o público a uma viagem pela história, marcada pelo sentimento de luto e revolta de todos os envolvidos, retratado por uma fotografia com filtro de grandes produções audiovisuais brasileiras.
A atuação também é um ponto alto da trama, sobretudo para os atores que interpretam os pais das vítimas. Houve ali uma conexão com a dor, com o luto, com a revolta que conseguiu sair das telas e chegar ao público.
O material de base para a composição da minissérie dita o tom de Todo Dia a Mesma Noite. Daniela Arbex, autora do livro base, foi consultora criativa da obra cinematográfica e garantiu que todo o seu trabalho de reportagem – feito ao longo de dois anos – fosse transposto para as telas.
O que impressiona na minissérie são as lembranças e os detalhes que, muitas vezes, foram esquecidos na última década. O roteiro se aprofunda em todas as etapas da busca por Justiça, relembrando o imaginário popular dos brasileiros sobre a forma como os crimes são resolvidos no país.
Apesar das evidências, todos os autores do crime cometido na Boate Kiss – que pegou fogo por escolhas irresponsáveis e criminosas dos donos da boate e dos músicos que tocaram naquela noite – seguem em liberdade, em um caso no qual até mesmo os pais foram réus.
Transpassar essa imensa falha da Justiça brasileira na tela para milhares de assinantes foi um ato de coragem necessário para lembrar que essa luta ainda persiste – e precisa ter uma solução digna.
Prepare o lencinho e seu sentimento de revolta: Todo Dia a Mesma Noite já está no catálogo da Netflix e vale cada segundo. Seja para honrar as vítimas e os pais, seja para relembrar um caso que ainda segue sem solução.