- Evidenciador ,
- 02 mai 2025
Nos anos de 1960, quatro jovens ingleses da cidade de Liverpool, dominavam o cenário mundial da música. Eles formavam o The Beatles.
Isso fez que, em várias partes do mundo, jovens se reunissem para formarem conjuntos musicais (o que hoje se chama banda, tempos atrás se chamava conjunto). E no Brasil, não foi diferente. Em nossa região, vários conjuntos se formaram. Existia, pelo menos, um em cada cidade.
Em Osvaldo Cruz, cinco jovens também sonhavam em trilharem na área musical. Eram eles: Beto, Gusto, Zé Luís, Dezyr e Tuím. Deles, somente dois tinham alguma experiência na área. Zé Luís e Dezyr tocavam na bandinha do coreto da Praça da Matriz nos fins de semana e em eventos na cidade. Era chamada de Furiosa, devido à intensidade com que seus integrantes se entregavam na execução das músicas. Os outros, mesmo sem experiência, tinham a música nas veias.
Havia talento, porém, faltavam recursos financeiros para a aquisição de instrumentos e equipamentos. Precisaram correr atrás de ajuda, a qual veio por meio do Clube das Bandeiras. Por intermédio do senhor José Alvarenga que à época, era um dos seus diretores, ficou acertado que o clube compraria o que fosse necessário, e em troca, o conjunto tocaria em eventos promovidos pela entidade durante um certo período.
O conjunto estava formado, porém, faltava o nome. Numa tarde de lazer nas dependências do clube, o assunto veio à tona: “que nome dar ao conjunto?” Dona Ilda, conhecida como Neca e mãe da Magic Paula (jogadora de basquete), que estava na conversa, sugeriu o nome de Solfas. Mas, por que Solfas, perguntaram? Dona Neca respondeu: “Bom, o termo solfas pode ser relacionado com a palavra solfejar, que é a arte de saber ler as notas que estão numa pauta musical”. Os presentes se entreolharam com ares de desconfiança, mas, ao final, a ideia foi aceita e o conjunto passou a se chamar Os Solfas.
Finalmente, no ano de 1967, os Solfas estrearam, tocando na boatinha do Clube das Bandeiras. E foi um sucesso! No começo, o grupo só tocava samba e músicas do Roberto Carlos. Em pouco tempo, a fama do conjunto se espalhou pela região e outros estados, foi quando passaram a tocar em bailes nos estados do Paraná, Mato Grosso (naquele tempo ainda não existia o estado do Mato Grosso do Sul) e Goiás. As viagens eram feitas em uma Kombi. Dentro dela, iam os integrantes do grupo, os instrumentos, a aparelhagem e as roupas. Imaginem o aperto! As estradas nos outros estados onde eles iam tocar, ainda não existia a pavimentação asfáltica. A terra vermelha do estado do Paraná era um problema. Tuím ficou pouco tempo no conjunto, pois, foi embora de Osvaldo Cruz.
Passado um tempo, os músicos perceberam que não podiam ficar tocando só samba e músicas do Roberto Carlos. Tinham que cantar músicas internacionais também. Até que alguns tentaram, mas não deu certo.
Foi quando resolveram trazer da cidade de Rancharia dois músicos: Rominha e Zulu, além de Ameriquinho e Bachega. E com isso, o conjunto cresceu e o repertório foi ampliado. Rominha imitava certinho os Bee Gees. Em certos bailes, algumas pessoas chegavam a subir no palco e tapavam o bocal dos microfones para confirmar se não era gravação, de tamanha a perfeição da interpretação.
À época, grandes encontros musicais com conjuntos da região eram realizados no Cine São José. O cinema ficava lotado e Os Solfas era o conjunto mais aguardado.
Chegou uma hora em que o conjunto precisava se expandir e explorar novos horizontes. Foi quando um antigo morador de Osvaldo Cruz, José Roberto de Oliveira, quando morava em Juiz de Fora, cidade do estado de Minas Gerais, incentivou os músicos a se mudarem para lá. Aquela era a chance de concretizarem o tão sonhado objetivo. Então, foram na velha Kombi.
Os primeiros bailes foram um sucesso e os Diretórios Acadêmicos das Faculdades de Medicina e Engenharia disputavam a primazia de terem o conjunto contratado para seus bailes. Foi nessa época, que o conjunto teve oportunidade de participar do programa A Grande Chance, de Flávio Cavalcante, na extinta TV Tupi. O programa era um dos mais assistidos no Brasil. Participaram de três etapas. Nas duas primeiras, ficaram em primeiro lugar, eliminando aquela que se tornaria uma grande sambista. Seu nome: Lecy Brandão. Na terceira e última etapa, os concorrentes eram das mais variadas atividades. O ganhador foi Cid Moreira, que viria a ser o maior apresentador do jornalismo televisivo do Brasil.
Porém, o que é bom dura pouco, então, começaram os desentendimentos. Beto e Gusto voltaram para Osvaldo e formaram outro conjunto, com Rotildo, seu irmão e Serginho. Como Beto era considerado dono do grupo, o nome do conjunto permaneceu com ele. Os que ficaram em Juiz de Fora batizaram o conjunto de Super Som Solfas. Pouco tempo depois, os integrantes do Super Som Solfas começaram a se desentender. Zulu queria que o conjunto focasse mais no ritmo Rock, mas nem todos concordavam. Por fim, o conjunto acabou. Os Solfas continuaram por um bom tempo, com variadas formações e não tendo regularidade em suas apresentações. Tudo isso aconteceu entre as décadas de 1960 e 1970.
A última apresentação dos Os Solfas aconteceu em 2006, no Clube das Bandeiras. A formação do conjunto foi: Beto, Gusto, Zé Luís, Dezyr, Mil e Tico.
O conjunto tinha uma estrutura amadora. Talvez se tivesse um empresário poderia ter tido mais sucesso.
Confira algumas fotos:
Da esquerda para a direita, Gusto, Zé Luiz, Bachega, Beto, Serginho e Bacheguinha.