- Evidenciador ,
- 21 mar 2025
Acho que não é novidade para ninguém que todo trabalho feito pela Beyoncé tem uma base monumental ao seu redor, configurando-se em algo único e coeso com o momento que a cantora vive. De volta ao mundo da música após alguns anos, o novo disco da cantora não apenas nos entretém, como nos faz voltar em um tempo onde tudo era mais fácil, ou ao menos parecia ser. Mas será que o álbum é realmente só isso?
Intitulado de ‘Renaissance’, o sétimo álbum da cantora usa elementos típicos da era disco em sua composição, colocando todo mundo para dançar sem grandes esforços. Com samples muito bem escolhidos e colocados, as faixas celebram a vida, criando uma sensação de acolhimento que poucos artistas conseguem. Mas é nessa linha do entretenimento que o disco toma uma proporção mais crítica, mostrando ser mais um acerto da cantora norte-americana.
Possuindo apenas 3 colaborações, sendo uma delas da lendária Grace Jones, o álbum traz por trás de todas as melodias a celebração de seu povo que desde os primórdios criaram sons e estilos perpetuados até hoje por toda uma sociedade. Contudo, ao contrário do que por anos ocorreu, Beyoncé exalta suas raízes, dando voz para cantores e cantoras que nem sempre tiveram a oportunidade de falar por si próprios. Através dos samples já citados, utiliza sons de lendas da música que vieram antes, honrando seu legado com respeito e carinho, propagando seus feitos para uma nova geração.
O renascimento de Beyoncé não é apenas dela, mas de toda a cultura que sempre esteve ao seu redor e nem sempre foi valorizada como devia, ou pior, associada a quem realmente a criou. Em ‘Renaissance’ nós viajamos por um mundo lindo de referências e ressignificados históricos, subvertendo as lógicas da sociedade ao evidenciar sonoridades já vistas como marginais em músicas que estão no topo das paradas e nos ouvidos de todo mundo.
Também fazendo claras abordagens aos famosos ballroons, locais de refúgio e resistência que a comunidade LGBTQ+ afro-americana e latina sempre utilizou para se expressar, o álbum celebra a diversidade da cena e aponta caminhos que sempre estiveram ali, mas nunca foram totalmente valorizados, dando voz para os silenciados sem tornar a situação caricata.
Sendo um dos trabalhos mais diferentes da cantora, o disco experimenta de tudo um pouco, bebendo direto da fonte, porém de um jeito em que tudo se encaixa muito bem. Sendo o primeiro ato de três, o Renaissance prova de uma vez que em nível de entretenimento, a Beyoncé é uma das maiores que já tivemos, ao passo que mostra que a arte, mais do que nunca, deve ser utilizada como ferramenta de resistência e luta, mesclando o entreter com o conscientizar.
Mas e aí, você já ouviu o disco?