Nenhum líder é legítimo sem antes ter servido sua comunidade.


Editorial – Voluntariado e o dever de servir: a base de uma sociedade e de uma boa política

Vivemos um tempo em que a lógica do “subir para mandar” muitas vezes supera a lógica do “servir para liderar”. No Brasil e no mundo, existe um desafio urgente: reconectar a política e a sociedade civil ao valor essencial do voluntariado, do ato de doar tempo, atenção e trabalho em benefício do próximo antes de qualquer ambição por cargo, poder ou visibilidade. Para cidades, estados e nações, essa postura não é apenas virtuosa; é necessária.

Voluntariar-se significa colocar-se à disposição de algo maior do que os próprios interesses. É atuar em igrejas, associações, fóruns comunitários, visitar idosos, proteger o meio ambiente, alfabetizar crianças, apoiar famílias vulneráveis e fortalecer causas que constroem o tecido social. Essas práticas desenvolvem cidadania, reduzem desigualdades e geram capital de confiança, elemento essencial para qualquer comunidade saudável e resiliente.

Há evidências claras sobre isso. Um estudo realizado com voluntários brasileiros mostrou que o voluntariado está diretamente ligado a atitudes mais fortes de cidadania e participação ativa na sociedade. Em escala global, estima-se que mais de 860 milhões de pessoas, cerca de 15 por cento da população adulta mundial, participem mensalmente de atividades voluntárias formais ou informais. Para além dos números, o efeito é visível na prática: cidades mais unidas, organizações civis mais fortes, cidadãos mais conscientes e políticas públicas que encontram apoio social para serem implementadas.

Para quem está na política, ou pretende estar, o voluntariado tem um significado ainda mais profundo. O voluntariado é a forma mais legítima de demonstrar humildade, empatia e compromisso com a comunidade. Representa vivência real dos problemas que muitos discursos políticos mencionam, mas poucos conhecem de perto. Educação, vulnerabilidade social, saúde, acessibilidade, infraestrutura e causas comunitárias se tornam mais do que temas; tornam-se experiências concretas que transformam a forma de liderar.

A sociedade espera de seus representantes mais do que promessas. Espera coerência, prontidão e postura. E a postura do verdadeiro líder público nasce antes do cargo. Ela nasce no serviço.

É importante que cada cidadão também faça uma autoanálise. Qual é sua participação comunitária? Você contribui com alguma causa local? Você se envolve com sua igreja, sua associação, seu bairro, seu fórum comunitário? Para quem sonha em ocupar cargos políticos, o questionamento é ainda mais necessário. É impossível servir uma cidade sem ter praticado o ato de servir na vida real. As comunidades não precisam apenas de discursos; precisam de exemplos.

O voluntariado transforma pessoas e transforma cidades. Onde existe voluntariado forte, existe mais união, mais visão coletiva, mais participação e mais desenvolvimento. Municípios se organizam melhor, identificam problemas com mais clareza e constroem soluções de forma mais colaborativa. O país também ganha: cidadãos mais conscientes, comunidades mais resilientes e um fortalecimento autêntico da democracia.

O chamado é simples e profundo. Escolha uma causa local e dedique algumas horas por mês. Participe de fóruns comunitários, igrejas, associações, projetos sociais e iniciativas do seu bairro. Busque líderes que tenham histórico real de serviço e não apenas uma boa oratória. Exija de quem está no poder a prática do servir, e não apenas o discurso sobre isso. Para quem já ocupa ou deseja ocupar espaço na vida pública, lembre-se de que a política é, acima de tudo, uma extensão do voluntariado. É servir em escala ampliada.

Servir não é um adorno da vida pública. Servir é o fundamento dela. Cidadania não é apenas votação; é presença, participação e entrega. Uma sociedade forte se constrói com pessoas que se doam, não com espectadores à distância. Uma política verdadeira nasce de quem serviu antes de prometer. É no voluntariado, nas pequenas ações, nos bastidores da comunidade, que começa o futuro de uma cidade, de um estado e de um país.

Autor da matéria: Edilson Zanetti

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