- Evidenciador ,
- 21 nov 2024
Créditos da foto: Brett Jordan/Unsplash
A aspirina, um analgésico leve, é um dos medicamentos mais conhecidos do mundo. Um uso cada vez mais comum desse medicamento popular, no entanto, pode não ser seguro para alguns adultos mais velhos, sugere uma nova análise de pesquisas existentes.
Pessoas sem problemas cardíacos que tomaram aspirina em baixa dose diária tiveram um risco menor de ataque cardíaco, derrame e morte; no entanto, os modestos benefícios obtidos foram equilibrados por um grande risco, mostrou uma pesquisa publicada na terça-feira (12) na revista JAMA. A dose diária aumentou o risco de sangramento no intestino ou no crânio.
“Isso põe em dúvida o benefício líquido de tomar aspirina e se as pessoas que não tiveram doenças cardiovasculares anteriormente devem tomar aspirina”, Dr. Sean Zheng, principal autor do estudo e pesquisador clínico acadêmico em cardiologia no King’s College Hospital, em Londres, escreveu em um e-mail.
A aspirina em baixa dose tomada diariamente é frequentemente recomendada para pessoas com problemas cardíacos, apesar dos riscos conhecidos de sangramento gastrointestinal ou intracraniano.
Estudos científicos mostraram o benefício comprovado da aspirina em ajudar a prevenir um segundo ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral em pacientes de alto risco.
No entanto, a controvérsia envolve o uso de aspirina para prevenir um primeiro ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral em pacientes de baixo risco.
A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, por exemplo, recomenda que alguns pacientes idosos sem problemas cardíacos tomem aspirina em baixa dose diária, enquanto a Sociedade Europeia de Cardiologia não.
Ensaios clínicos anteriores, alguns realizados na década de 1980, mostraram “achados conflitantes”, observou Zheng, e desde então a prática da medicina mudou e a conscientização pública sobre os benefícios do exercício e os males do tabagismo aumentou.
Ao incluir a pesquisa mais recente em sua análise, o novo estudo procurou “fornecer uma estimativa mais relevante dos benefícios e riscos da aspirina”, explicou.
Os dados para a análise vieram de 13 estudos com um total combinado de 164.225 participantes, todos sem doença cardiovascular. Esses estudos compararam o uso de aspirina versus o não uso de aspirina em pessoas sem doença cardiovascular.
O uso de aspirina foi associado a uma redução de 0,38% no risco absoluto de ataque cardíaco e derrame e um aumento de 0,47% no risco absoluto de sangramento maior, descobriram os pesquisadores.
O que isso significa em termos reais?
“Para cada 265 pacientes tratados com aspirina por 5 anos, um ataque cardíaco, derrame ou morte por doença cardiovascular seria evitado”, disse Zheng. “Por outro lado, para cada 210 pacientes tratados com aspirina no mesmo período, um teria um evento hemorrágico grave”.
A aspirina também não mostrou nenhuma ligação com a morte prematura por qualquer motivo, incluindo um evento cardiovascular, e não aumentou o risco de câncer ou morte por câncer, segundo o estudo.
Donna Arnett, ex-presidente da American Heart Association e reitora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Kentucky, escreveu em um e-mail que as “descobertas não são realmente novas, mas confirmam as meta-análises anteriores”.
Arnett, que não esteve envolvida no estudo, sugeriu que os pacientes discutissem com seus médicos “seu nível de risco para um evento cardiovascular e determinassem se existem outras intervenções que possam ser mais úteis, como parar de fumar, reduzir a pressão arterial ou os níveis de colesterol.”
Ela também alertou que pacientes com qualquer histórico de anormalidades hemorrágicas devem falar com seu médico sobre o uso de aspirina.
Em um editorial, o Dr. J. Michael Gaziano, cardiologista preventivo do VA Boston Healthcare System e professor de Medicina da Harvard Medical School, elogiou a nova pesquisa como “bem conduzida”. Embora as conclusões possam não ser “novas”, o estudo de Zheng demonstra que há “uma consistência geral” entre as descobertas antigas e as mais recentes.
“Ao aplicar esses resultados a um paciente individual, os médicos devem considerar outras intervenções além da aspirina, como parar de fumar e controlar a pressão arterial e os níveis de lipídios, para diminuir o risco”, escreveu Gaziano, que não participou da análise.
Ele observou que “o risco não é estático” e se os pacientes pararem de fumar, adotarem um estilo de vida mais saudável e controlarem o colesterol e pressão arterial, o risco de um evento cardiovascular diminui.
“Como é complicado pesar os riscos e benefícios da aspirina na prevenção primária, deve envolver uma discussão compartilhada de tomada de decisão entre o paciente e o médico”, disse ele.
John McNeil, professor do Departamento de Epidemiologia e Medicina Preventiva da Escola de Saúde Pública e Medicina Preventiva da Universidade Monash, na Austrália, disse que “é provável” que o novo estudo tenha exagerado um pouco os benefícios da aspirina para prevenir um primeiro derrame ou ataque cardíaco.
Isso se deve ao fato de que Zheng e seu co-autor “compararam ensaios realizados 20-30 anos atrás (que foram muito favoráveis à aspirina) com ensaios mais recentes que foram substancialmente menos favoráveis”, incluindo também “quatro ‘estudos não cegos’ que geralmente fornecem evidências menos confiáveis”, explicou McNeil, que conduziu um dos estudos subjacentes, embora não tenha realizado a análise.
A própria pesquisa de McNeil, o estudo ASPREE, analisou o valor de tomar uma aspirina por dia para prevenir ataques cardíacos ou derrames em pessoas com mais de 70 anos. “Os resultados foram bastante inequívocos”, disse ele. “A aspirina não confere nenhum benefício geral nesta faixa etária e houve uma sugestão de dano líquido”.
Outros estudos recentes, disse McNeil, “também não conseguiram identificar um benefício substancial da aspirina na prevenção primária em grupos especiais. Trabalhos adicionais estão em andamento para determinar se existem subgrupos que possam se beneficiar”.
Em última análise, disse McNeil, o novo trabalho “fornece pouco apoio para o uso generalizado de aspirina para a pessoa comum” para prevenir um ataque cardíaco ou derrame, embora isso “não deva ser confundido” com o benefício estabelecido para pacientes em risco.
Pâmela Pires
| CNN Brasil