Uma cidade não se sustenta com quatro noites de Festa


Osvaldo Cruz se prepara para mais uma edição da Festa do Peão de Rodeio, entre os dias 4 e 7 de junho de 2025. O evento, que já foi símbolo de tradição e identidade local, levanta agora um debate importante: quanto custa essa festa — e o que estamos deixando de priorizar em nome do entretenimento?

Números que falam por si

Segundo documentos oficiais da Prefeitura Municipal, publicados em Diário Oficial, o custo direto da festa já ultrapassa R$ 1,7 milhão:

Artista / Empresa Contratada

Valor Contratado

Luan Pereira

R$ 330.000,00

Fernando & Sorocaba

R$ 360.000,00

Michel Teló

R$ 360.000,00

Felipe & Rodrigo

R$ 150.000,00

Open Farra

R$ 70.000,00

Country Beat

R$ 55.000,00

Estrutura, montagem e organização

R$ 375.800,00

Total estimado

R$ 1.700.800,00




 

Ainda não está totalmente esclarecida a origem dos recursos — se federais, estaduais ou municipais —, mas é certo que investimentos desse porte poderiam ser distribuídos ao longo do ano em outras iniciativas culturais e comunitárias. Além de valorizar diferentes expressões da cidade, isso possibilitaria uma agenda mais diversa e contínua de eventos, gerando múltiplas oportunidades de participação popular e injeção econômica no comércio local em diferentes períodos, e não apenas em datas pontuais.

A Cultura que fica de fora

Enquanto o investimento milionário é feito em apenas quatro dias de festa, a cidade deixa de investir em eventos de longa duração e de forte impacto social. Por exemplo:

·        A ARTIPLIC, Associação de Artesãs da cidade, reúne quase 30 mulheres que atuam de forma independente, criando produtos locais que geram renda e valorizam a identidade cultural. Apesar do reconhecimento pelo trabalho que realizam, ainda não há um espaço fixo para exposição dessas produções. A criação de uma Feira do Artesão, por exemplo, poderia fortalecer o empreendedorismo feminino e incentivar a economia circular no município.

 

·        A Feira do Verde, a Feira das Nações e outras manifestações culturais foram deixadas de lado nos últimos anos — e sequer estão no calendário atual de eventos.

Ao valorizar apenas uma vertente cultural e ignorar iniciativas populares e acessíveis, a gestão pública centraliza recursos onde poderia diversificar impacto e participação.

E os esportes? E os eventos que movimentam a cidade?

Osvaldo Cruz sediou os Jogos Regionais em 2014, 2015 e 2016, 2017 e os JORI (Jogos Regionais do Idoso) em 2016 e 2019. Esses eventos atraíram milhares de visitantes, atletas, equipes técnicas, familiares e geraram movimento direto no comércio local, ocupação de hotéis, vendas no setor alimentício e fortalecimento da marca da cidade.

Segundo o Governo do Estado de SP, cada R$ 1 investido nos Jogos Regionais pode retornar até R$ 4,30 em movimentação econômica. Com mais de 6 mil atletas e delegações, Osvaldo Cruz foi destaque na região e se tornou referência de organização e hospitalidade. Por que parar algo tão positivo?

É preciso equilibrar o desejo de manter tradições com a obrigação de gestão fiscal e socialmente responsável.

 

Um convite à reflexão coletiva

Este editorial não se opõe à Festa do Peão. O que se propõe aqui é abrir o debate sobre planejamento, prioridades e transparência. Uma cidade é feita todos os dias — com políticas públicas que geram resultados duradouros, inclusão, desenvolvimento e oportunidades reais.

Osvaldo Cruz precisa de eventos, sim. Mas eventos que reflitam o potencial de toda a sua população, que distribuam oportunidades iguais e que valorizem todos os movimentos culturais do município.

 

Este editorial é uma manifestação crítica, embasada em documentos públicos, e visa promover reflexão construtiva e diálogo sobre a gestão de recursos municipais.

 

Segue link: https://www.govbrdioenet.com.br/public/uploads/diarios/2025/05/0e3634907bee44892067dbce94dfcedd.pdf

Autor da matéria: O Evidenciador

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