- Evidenciador ,
- 19 nov 2024
Osvaldo Cruz, devido ao seu solo ter uma camada arenosa, desde sua fundação já convivia com grandes erosões que se transformaram em imensas voçorocas.
A mais famosa, talvez por se encontrar próxima ao centro da cidade, ficou conhecida como buracão.
Começava estreita, na esquina das Avenidas Brasil e Presidente, Roosevelt, descendo pela Avenida Presidente Getúlio até a Rua Acre, atual Rua Salgado Filho. De lá descia sem obstáculos, devastando uma grande área calculada em mais de 100 m de largura e outro tanto de comprimento.
Era ali que as águas das chuvas desaguavam e formavam poças d'agua. Perto do buracão existia uma olaria e muito tempo depois, foi instalada uma carvoaria. As mulheres levavam suas panelas para arearem na areia que havia ali.
Em 1950, teve início a construção da galeria de águas pluviais. Foram só 300 m e aproveitava o percurso que a erosão fazia. Muitas residências faziam ligações clandestinas e despejavam seus dejetos nela. Tudo ia para o buracão e corriam a céu aberto. Também, por muito tempo, o lixo urbano era depositado no local, assim como animais mortos.
Mesmo com tanta sujeira, nada era empecilho para a diversão da garotada.
A criançada se divertia muito naquela área. Cavernas eram feitas como esconderijo. Apesar de serem motivo de alegria, também havia momentos de tristeza.
Há muito tempo, numa tarde, depois de nadarem em uma das poças d'agua que se formavam pelas águas das chuvas, misturadas com os resíduos clandestinos e pela existência de várias nascentes, os meninos foram brincar nas cavernas que faziam. Elas eram abertas nos barrancos altos, onde se entrava por baixo e saía por cima e vice-versa.
Naqueles dias, havia chovido muito. O sol custava a aparecer e a terra permanecia molhada. Um dos meninos entrou em uma das cavernas. No meio da travessia, o barranco desmoronou, soterrando o menino.
Os outros tentavam tirar a terra, mas o volume era muito grande. Outros saíram pedindo socorro, mas a casa mais perto ficava longe. Quando o socorro chegou, só restou tirar o corpo sem vida daquele monte de terra.
O buracão fez parte da vida de várias gerações. Quantas histórias, quanta saudade. Muitas espécies de passarinhos iam alegrar o ambiente com seus cantos singulares. Variadas espécies de plantas e flores também alegravam o local.
Também havia muitos pés de mamonas, cujos frutos usados nos estilingues, se tornavam verdadeiras armas mortais "contra os inimigos". O buracão era um verdadeiro parque de diversão. Sonhos e brincadeiras como caça ao tesouro naquele solo cinzento, onde o tesouro nunca era encontrado, eram realizados.
Havia uma ponte que ligava os dois lados do buracão, onde as pessoas passavam para cortarem caminho. Na verdade, nem podia ser chamada de ponte. Estava mais para pinguela, pois era estreita e perigosa.
À noite, os grilos cricrilavam e os sapos coaxavam. Também, à noite, no céu se viam aqueles pontinhos que acendiam e apagavam. Eram os vaga-lumes que vinham participar do espetáculo.
No buracão não podia faltar um time de futebol. Nas décadas de 1980/1990, foi formado um time. O time da Vila Isabel.
Integrantes do time do Buracão. Em pé; Nidão, Marcelo Leitão. Marco Aurélio, Rogério Tokimatsu, Fia Lino, Vicentinho. Agachados: Baú, Esdras Leitão, Guidinha, Robison
No buracão foi achado um corpo de uma mulher morta.
Desde 1950, todos os Prefeitos que administraram o Município, fizeram o aterramento de uma parte da área. O aterramento só foi finalizado na década de 1980, quando dezenas de caminhões, vai-e-vem constante, trouxeram terras na estrada vicinal Osvaldo Cruz/Sagres, que estava sendo asfaltada.
Hoje, a área está toda ocupada por construções públicas e particulares.
Desde a finalização do aterramento até o início das construções, muitos parques e circos, ali, se instalaram.
O buracão, certamente, deixou muita saudade!