- Evidenciador ,
- 16 mai 2025
Enquanto Osvaldo Cruz se prepara para celebrar mais uma edição da Festa do Peão, prevista entre os dias 4 e 7 de junho de 2025, a população convive com desafios alarmantes nas áreas de saúde, educação e infraestrutura. A iniciativa cultural, embora importante para a tradição local, reacende um debate essencial: como equilibrar tradições culturais com as demandas sociais mais urgentes da população?
Saúde Pública: Emergência que Não Pode Esperar
Em 2024, quatro mortes de crianças foram registradas no município — incluindo o caso amplamente noticiado de uma menina de 9 anos atendida na Santa Casa local, que gerou protestos e forte mobilização popular por melhorias no atendimento pediátrico.
A realidade vai além dos casos de mortalidade: Osvaldo Cruz tem hoje uma população idosa representando 15,75% dos moradores, segundo a Fundação Seade, o que exige políticas de saúde consistentes e adaptadas ao envelhecimento demográfico. Faltam médicos em PSFs, há relatos, divulgados em redes sociais e meios de comunicação locais, de demissões de profissionais e constantes queixas sobre ausência de atendimento básico.
Somando-se à urgência da demanda, a taxa de mortalidade infantil da cidade tem apresentado oscilações preocupantes nos últimos anos, conforme dados do Ministério da Saúde. Em 2020, a taxa atingiu 25 por mil nascidos vivos, muito acima da média estadual, que foi de 10,7 no mesmo período, segundo a Fundação Seade. Em 2023, embora tenha voltado a patamares anteriores (13,47), a situação ainda requer atenção constante e investimento prioritário.
Educação: Entre o Potencial e a Estrutura Deficiente
Apesar dos avanços no desempenho acadêmico, como a nota 6,5 no IDEB nos anos iniciais do ensino fundamental, alinhada à média estadual, a rede municipal ainda enfrenta problemas de infraestrutura. Há relatos de que muitas escolas ainda carecem de ar-condicionado, recurso cada vez mais essencial para garantir conforto e desempenho dos alunos em dias de calor intenso, comuns na região.
Infraestrutura: Sinais de Abandono
Os desafios da infraestrutura urbana também se impõem. Ruas esburacadas, mato alto, iluminação precária e alagamentos frequentes após chuvas, como os registrados em dezembro de 2024, afetando inclusive bairros centrais como Vila Esperança e Vila Santa Helena, evidenciam desafios enfrentados pela atual gestão pública na manutenção da infraestrutura urbana.
A imagem que se tem ao chegar na cidade, marcada por vias malcuidadas e sensação de abandono, contrasta com o empenho na realização de um evento de grande porte como a Festa do Peão.
Cultura x Gestão: A Festa do Peão em Perspectiva
A 13ª Festa do Peão, promovida pela Prefeitura, levanta dúvidas sobre a pertinência da alocação de recursos diante das demandas estruturais e sociais do município. Em 2023, o evento foi cancelado por causa de uma queda de cerca de R$ 1 milhão na arrecadação municipal, decisão que, à época, foi vista como uma medida responsável.
Frente à escassez de recursos e às muitas carências urbanas, uma possível saída seria transferir a realização da Festa do Peão para a iniciativa privada, por meio de parcerias ou concessões. Empresas locais poderiam financiar o evento em troca de visibilidade comercial, enquanto o poder público se concentra em resolver os gargalos da cidade com os recursos disponíveis.
Manter vivas as tradições de um município é saudável desde que isso não sirva como cortina de fumaça para os problemas reais da cidade. Uma comunidade verdadeiramente forte é aquela que consegue celebrar sem deixar de cuidar. Não se trata de ser contra a festa, mas de compreender que tradição e responsabilidade precisam caminhar juntas. Osvaldo Cruz merece celebrar, sim mas também merece planejamento, coerência e respeito com sua população.
Editorial: Evidenciador