Após contratação de nova alta, mercado passa a ver juros acima de 12% em 2022

Após contratação de nova alta, mercado passa a ver juros acima de 12% em 2022


Créditos da foto: EDUARDO DUARTE/ESTADÃO CONTEÚDO

Analistas do mercado financeiro passaram a ver a Selic acima de 12% já no primeiro semestre após o Banco Central (BC) sinalizar nesta quarta-feira, 2, um novo aumento dos juros no encontro agendado para março. Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) acrescentou 1,5 ponto percentual na taxa básica, elevando o patamar de 9,25% para 10,75% — o maior registro desde 2017. Em nota, o colegiado indicou que vai manter a trajetória de alta dos juros, apesar de admitir a redução no ritmo de ajuste. Até o fim da semana passada, o mercado estimava que a Selic iria encerrar o ano a 11,75%, segundo previsões do Boletim Focus publicadas na segunda-feira, 1º. Na visão dos analistas, o BC deve somar mais um 1 ponto percentual na próxima reunião, subindo a taxa para 11,75% ao ano. O ciclo deve chegar ao fim no encontro de maio, com um acréscimo de até 0,75 ponto percentual. “O resultado de março vai estar em linha com o que sair da inflação. Se a variação de preços recuar, se espera uma alta menos agressiva. Mas caso dê sinais de que não está controlada, o Banco Central pode colocar o pé no acelerador mais uma vez”, afirma o sócio da Nexgen Capital, Felipe Izac, que prevê a Selic a 12,25%,.

Os membros do BC enfatizaram no comunicado que vão manter a política monetária no campo contracionista, isto é, quando prejudica a atividade econômica, até que “se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. A surpresa negativa com os dados da prévia da inflação em janeiro fez com que os analistas revisassem para cima a estimativa para a variação de preços para 5,38% neste ano. A mudança afasta o patamar da meta de 3,5% perseguida pelo BC, com variação entre 2% e 5%. Caso se confirme, será o segundo ano consecutivo que a inflação extrapola os limites determinados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “Com a continuidade de sua política, o Copom tenta alinhar a inflação às metas da autoridade monetária, apesar de sua estratégia atrapalhar o crescimento econômico em meio a uma recessão declarada no terceiro trimestre”, diz a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto.

 

A casa também prevê encerramento do ciclo de alta com a Selic a 12,25% ao ano. “A atividade mais fraca e menor importância da inflação de 2022 no horizonte relevante da política monetária dão suporte para tal tese. No entanto, as expectativas de inflação ainda seguem desancoradas, acima do teto neste ano e pouco acima do centro da meta em 2023.”

O economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, mantém a opinião de uma alta menos intensa e com a Selic abaixo de 12% no fim do ciclo de elevação. Para o especialista, a autoridade monetária deve dar um respiro no ritmo de alta para ver com mais clareza os efeitos que as sucessivas mudanças terão no controle da inflação e na atividade econômica. “O Banco Central deve desacelerar o ritmo para poder observar os efeitos no médio e longo prazo, e o mais provável é uma curva menos agressiva dos juros”, afirma. A mesma visão é compartilhada por Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, que classifica como “incoerência” a redução da escalada dos juros frente aos sinais de que a inflação não perdeu fôlego. “Ainda que se justifique que as perspectivas mais pressionadas se deem por conta de projeções mais elevadas de administrados, a despeito da revisão baixista de energia elétrica, a autoridade tem meta sobre o headline. Sendo assim, avalio que a autoridade opta por perder graus de credibilidade no combate às expectativas de inflação”, afirmou.

 

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