- Evidenciador ,
- 19 nov 2024
Muito se tem dito sobre o ateísmo de Freud (1856 - 1939), porém pouco se fala dos significados que a Psicanálise representou ao longo do tempo.
Como pensar este grande pensador sendo ateísta ou materialista, diante da recusa o uso de sua ciência, como parte da doutrinação materialista ideológica do movimento francês socialista? O convite de lideranças francesas, figuras eminentes foram visitá-lo com a proposta, porém negou, causando a ele a seguinte indagação; “qual o interesse deles em minha Psicanálise?”.
O seu resgate à humanidade foi a substancialidade da alma, assim como Descartes (1596 - 1650), dando-lhe materialidade existencial, porém este com sua dicotomia instituiu a divisão entre matéria e alma, enquanto Freud visava sua integralidade, liberdade como sentimento de algo diante do orgânico a materialidade metafisica até o surgimento de sua Metapsicologia, a grande bruxa.
O pensar, a materialização da alma em busca de resoluções arcaicas no reconhecimento do humano como herdeiro ontológico, replicado no presente, assim como o filogenético, continuador da espécie humana em desenvolvimento.
Em função de perseguições de sua linguagem, deturparam sua fala, pois o pecado, a culpa, bloqueios sexuais causados pela proibição absolutista de uma era conservadora vitoriana, vigorava em uma vigília de perseguições religiosas. Surdos ouvindo seus próprios ecos, não entenderam o significado da palavra sexualidade dentro do contexto de sua obra, no sentido de relacionamento, daí sua construção de conflitos intrínseco da neurose.
Participa com seus estudos sobre Afasias, contesta o movimento fisicalista de sua época, contestava suas teorias, pois dizia ser o cérebro de um funcionamento integral, não algo estático, como eram a ideias de seus contemporâneos Broca (1824 – 1880) seus estudos sobre área motor e Wernicke (1848 – 1905) seus estudos sobre a fala.
Além do grande humanista, herdeiro da coragem de seu povo, com experiência de deserto, muitos de seus pares contribuíram para a iluminação da humanidade e da ciência entre os séculos XVIII e XIX, transformações atualmente em pleno curso como consequência, principalmente de Freud como mentalista, objetivando a salvação da alma humana.
Muitos tentaram, através principalmente pós-revolução francesa, movimentos concretistas em dar materialidade a valores subjetivos no resgate da metafisica. Dentro dos ditames da ciência evidencialista cartesiano, porém a dicotomia entre matéria e pensamento, cisão histórica que trouxe muita evolução, mas causou uma divisão questionadora quanto à substancialidade, ainda não pacificada do ser e o não ser.
Apesar de ser usual no cotidiano a ideia da topologia Freudiana, porém foi uma analogia antropológica em sua construção, quando da formulação do seu sistema consciente, subconsciente e inconsciente, mais tarde reduzido com a exclusão do subconsciente, em seu lugar a ocupação do “eu” em sua formação topográfica, pois esse estava sujeito entre estas duas composições, significado do homem de dentro e o de fora em sua concepção mitológica.
Resgatando a integralidade do ser em seu conceito antropológico, assim como, dirimindo dúvidas sobre o inatismo, pensamento de alguns autores sobre tais questionamentos, quanto à analogia de que somos uma folha em branco quando nascemos a ser preenchida em nossa existência.
Freud com sua formulação do arcaico possibilita as reflexões das mais variadas vertentes, principalmente Jung (1875 - 1961), com sua Psicologia Analítica na formulação do self, seus arquétipos e a coletivização de seu inconsciente, amparada pelos estudos dos mitos e sua alquimia transcendente.
Proposta da Psicanálise em situar o ser na sua imanência existencial, através do pensar, no sentido da passagem temporal dos seres finitos a transcendencialidade tempo espaço, relação entre Eros e Thanatus, ou seja, vida e morte.
Suas instâncias antropológicas, o Ego, o Id e o Superego em suas estruturas é nortear através da memória o significado de energia (Q), produzida pelo cérebro, armazenamento de uma substância que permeava os neurônios, percepções, emoções retidas ou dissipadas em sua permeabilidade e impermeabilidade neurológicas, em que seus registros situavam.
O Ego, representante na construção social, causa primária da repressão, objeto da cognição e proibição do sujeito interrompido, o Id registros do primitivo sujeito da pulsão dos desejos e vontades, sem freios, movidos pelo instinto, porém irmão gêmeo do Ego. A construção do superego, a régua do equilíbrio no controle de seus irmãos, assim possibilitando a harmonia em curso da sociabilidade idealizada do verdadeiro humano, fazendo analogia da sonhada filosofia Nietzschiana (1844 - 1900).
Hoje diante dos estudos dos cérebros, sua anatomia, a fisiologia, enigmas a desvelar, um estudo cosmológico em andamento na exploração da evolução cerebral, nos trará novas luzes no avanço não somente das implicações orgânicas, mas fundamentalmente no pensamento, em sua decifração evolutiva.
Diante do ser integral do medievo, separado no modernismo, Freud resgata sua integralidade funcional, porém a insatisfação existencial de uma visão racional transformou-nos em massa, função de sua condicionalidade material, consequentemente decretando a morte de Deus, instituiu-se o pensamento coletivo da igualdade. Santos (1907 - 1968).
Porém, a metafisica composta pela subjetividade do sentir, percepções, intuições, emoções, substâncias incontroláveis, ou seja, não permitindo o condicional, vivência sua incondicionalidade, resgatando a individualidade singular das diferenças, não sujeitos ao homem massa de Ortega & Gaze (1883 - 1955), em suas críticas.
Se no modernismo o aproveitamento de velhas estruturas foi mantido como alicerces de uma base voltada as experiências, hoje a desconstrução das sombras surge de estruturas sedimentadas em pântanos, sujeitos a ruir, como ocorreu no passado sangrento, de revoluções estruturais de sujeitos guindados ao poder sem filtros, suas psicopatias em nome da ansiedade de poder.
Sabemos que pelas diferenças de polarização são produzidas energias, portanto não se coaduna com os iguais, pois estes se repelem pelos contrários à aproximação, porém falaciosa Liberdade, Igualdade, Fraternidade é uma ideia fantasiosa, utópica que contraria a física da qual estamos sujeitos, cuja artificialidade visa apenas à dominação.
Diante do que não está pacificada entre a matéria e alma, da ideia de finito e infinito, imanência e transcendência, razão e emoção, pensamento e linguagem, assim como o conceito de raça, a inversão do materialismo dialético fundamentado na fala, que a existência precede a essência é um engodo linguístico para alienar o sujeito rumo ao nada do pragmatismo antropofágico.
Porém, quando situa o ente em formação na construção do ser, resgata a evolução, consequentemente sem a mística, leva a coisificação do ser objetal, sujeitação a caminho da extinção, em um mergulho niilista fatal.
Basta ter olhos para ver, assim como ouvidos para ouvir, a agenda 30, sugere a formação de um governo único central na condução dos iguais, criação dos departamentos das verdades, controle por líderes escolhidos, financiados pela nova ordem mundial, cooptando instâncias de governos, ou seja, a mesma desconstrução da Revolução Francesa Socialista Materialista Dialética, rumo à massificação da identidade, igualdade, controlada pelo grande irmão gestor na condução da felicidade eterna do paraíso terreno, não mais dos céus.
Concluindo, com a recusa de Freud para compor sua Psicanálise com os ideólogos materialistas de plantão, quando ele diz: “Qual a intenção e propósitos de minha Psicanálise por esta turma”? Sabia com sua expertise a coisificação de sua ciência, apenas a serviço de algo estranho até então.
Estava além de seu tempo, assim como toda uma legião de guerreiros, alguns entenderam, outros foram cooptados pelos Egocentrismos e Narcisismos e seus estereótipos. Enquanto a maioria cultuava no fogo Prometeico da revelação, assim como a figura simbólica da morte do grande Pai, repetindo a fábula das hordas, rito secular mitológico da civilização em nosso inconsciente coletivo ou arcaico, a tradição, a cultura, o conhecimento prevaleceu.
As transformações ocorrem morosas às vezes, porém necessária, preservar velhas estruturas como alicerces é importante, pois nos traz experiências seculares. Derrubar paredes de forma intempestiva apenas para trazer o novo, não considerando vivências passadas é resgatar um túnel escuro sem passado, estruturas das quais nos trouxeram até aqui é negar a mística que nos sustentam como esperança, rumo à transcendência.
BIBLIOGRAFIA
DESCARTES, Rene; Discurso do Método, Nova Cultura, São Paulo, 2000.
FREUD, Sigmund; Obras Completas, Edição Imago, Rio de Janeiro, 1969.
NIETZCHE, Friedrich Wilhelm; Humano, Demasiado Humano, editora Rideel, São Paulo, 2005.
SANTOS; Mario Ferreira dos; Filosofia e Cosmologia, Editora Logos Ltda, São Paulo, 1952.